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quinta-feira, 18 de março de 2010

Resiliência: aprenda a dar a volta por cima

Ao encarar desventuras, há quem consiga se reestruturar rapidinho. Isso é resiliência. Saiba como desenvolvê-la.

Saber que dificuldades fazem parte da vida é essencial para desenvolver a resiliência
Cair e levantar. Na teoria o mecanismo parece fácil. Na prática, as coisas são bem diferentes. Ao passar por uma situação que traz sofrimento – como o término de um relacionamento, a morte de um parente querido ou uma demissão – o processo de recuperação nem sempre é simples. A sensação de desânimo e perda podem durar um bom tempo e é fácil sentir como se nada mais fizesse sentido.

Porém, há indivíduos que enfrentam grandes percalços e, mesmo assim, conseguem vencer a dor e se reestabelecer em pouco tempo. Essa habilidade em superar é chamada pela Psicologia de resiliência. O termo foi sabiamente emprestado da Física, que define a resiliência de um objeto como sua capacidade de sofrer pressão ou impacto e, depois, voltar à forma original.

Inabalável?

É bom ficar claro que resiliência não tem nada a ver com ausência de sofrimento. De acordo com George Barbosa, diretor científico da Sociedade Brasileira de Resiliência (Sobrare), nos anos 70 havia esse entendimento e os resilientes eram chamados de invulneráveis. Mas isso foi logo corrigido.

“O evento está lá, é real. Mas a maneira de interpretá-lo é que faz a diferença”, diz.

“Voltando à analogia com a Física, do mesmo jeito que um objeto sofre desgaste e transformação, seja por causa da perda ou do ganho de energia, as pessoas ditas resilientes lidam com medos, dores, angústia e desespero diante de experiências traumáticas. Mas elas superam o impacto e conseguem dar outro significado ao acontecimento dentro do seu contexto de vida”, completa Rosaly Ferreira Braga, psicóloga e pesquisadora do Prove (Programa de Atendimento e Pesquisa a Vítimas de Violência), da Unifesp.

Questão de perspectiva

Deve-se dizer que nos primeiros dias ou semanas depois de um trauma é extremamente normal retomar a experiência desagradável por meio de lembranças e até pesadelos. Mas, enquanto as pessoas consideradas resilientes reúnem forças para se reorganizar emocionalmente e retomar a vida normal, há uma boa parcela que leva um tempão para conseguir ficar de pé novamente.

A diferença entre os dois grupos, como já adiantaram o diretor da Sobrare e a psicóloga da Unifesp, está basicamente na maneira de interpretar o evento.

“Nos resilientes, aos poucos as recordações são elaboradas e incorporadas à sua autobiografia, transformando-se em memórias que futuramente podem ser evocadas como fontes de experiência”, descreve Rosaly.

Já para os indivíduos vistos como mais vulneráveis, há uma maior dificuldade em reduzir os estragos causados pelo trauma. Nesses casos, um dos sintomas é ficar revivendo o acontecimento, o que resulta em muita angústia.

“Há quem chegue a desenvolver quadros psiquiátricos, como depressão. Para ter uma ideia, das pessoas que são expostas ou vivem uma situação traumática, cerca de 15 a 20% desenvolvem algum transtorno psíquico”, informa a psicóloga.

Por trás da fortaleza

Mas, afinal, por que há indivíduos que conseguem enfrentar as adversidades com tanta desenvoltura? Segundo Barbosa, são pessoas que desde cedo aprenderam a atribuir um significado adequado às suas crenças (ou seja, sem muito rigor). Dessa forma, desenvolveram a habilidade de transitar por diversos ambientes e situações. Trocando em miúdos: são mais flexíveis. É utilizando essa característica que os resilientes acabam se tornando mais controlados, atentos, confiantes, empáticos, otimistas e carismáticos.

“Por isso são conhecidos como pessoas com maior maturidade emocional”, diz o diretor científico da Sobrare.

Por outro lado, quem é muito rígido em relação àquilo que acredita corre o risco de sofrer mais para compreender e superar os infortúnios que vez ou outra aparecem pela vida. É como se só soubessem ir para casa por uma rua e, quando essa é bloqueada, não recorrem ao jogo de cintura para procurar rotas alternativas – ao contrário dos resilientes.

Virando o jogo

A boa notícia é que todo mundo pode desenvolver a resiliência e, assim, ficar mais hábil em se levantar após um tombo. Para isso, é preciso estimular algumas habilidades individuais e sociais. Inicialmente, diz Rosaly, “deve-se ter a percepção e a consciência de que as dificuldades fazem parte da vida de todo mundo. Isso é essencial para desconstruir o pensamento de vitimização que paralisa e adoece as pessoas”.

Outro passo fundamental para avançar na trilha que leva à capacidade de superação é identificar e reconhecer os próprios limites diante de situações causadoras de estresse. Além disso, é muito importante investir em recursos que possibilitem aprofundar o conhecimento sobre si próprio.

“Assim, evita-se o sentimento de frustração e a baixa autoestima”, afirma a pesquisadora do Prove.

Cultivar relações de amizade verdadeira é mais um fator determinante para alcançar um maior grau de resiliência, já que os amigos costumam estar à disposição para ajudar em qualquer circunstância – o que aumenta, de quebra, a autoconfiança.

Segundo Barbosa, que costuma trabalhar o desenvolvimento da resiliência, quem tiver disciplina para seguir os modelos propostos conseguirá, com o tempo, atribuir novos significados aos traumas e, assim, tornar a vida mais gostosa. “Mesmo que haja dor”, finaliza.

Exercite a superação

A seguir, George Barbosa dá algumas dicas que considera fundamentais para o desenvolvimento da resiliência. “Quem for muito sistemático em relação a todas pode ganhar a fama de chato ou metódico. Portanto, é preciso dosar a maneira com a qual se dedica a cada uma”, aconselha. Vamos lá:

1. Tenha autocontrole diante de situações importantes para você
2. Analise o contexto da ocasião em que se encontra
3. Tenha autoconfiança em sua capacidade de realizar aquilo que se propõe a fazer
4. Desenvolva a capacidade de conquistar e manter as pessoas junto de si
5. Trabalhe a habilidade de ser empático
6. Seja otimista e alimente a esperança diante de percalços
7. Procure “ler” e entender o que se passa com o próprio corpo
8. Tenha o exato senso de valorização da vida

DICA DE LIVRO: SobreViver – Instinto de Vencedor, de Claudia Riecken (Editora Saraiva)